segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O mercado gráfico boa-vistense

por Camila Costa

Antes de dar início, acho que precisamos ir à pergunta-chave para a melhor compreensão deste texto: O que é uma gráfica? Quais suas funções?
Uma empresa gráfica é uma entidade prestadora de serviços que utiliza do sistema de impressão, como por exemplo, off-set, rotogravura, flexografia e outros. Ou também materiais personalizados, como: camisas, chaveiros, canetas, bonés e uma série de brindes diferenciados.
Todos aqueles panfletos que você recebe na rua ou aquele jornal que você lê todos os dias de manhã ou, até mesmo, a bula do remédio que você toma, tudo isso foi construído em uma empresa gráfica.

Qual a origem deste tipo de serviço?
Tudo começou em meados de 1440, quando a história mundial foi marcada por uma nova invenção. Johannes Gutenberg foi um inventor alemão nascido em Mainz, que deu início as artes gráficas com a invenção da tipografia, tintas à base de óleo e estudos relacionados ao papel.
Os livros e demais textos da época eram feitos à mão, por monges, e demoravam meses para serem concluídos, sem comentar que isso tornava o acervo caríssimo e inacessível para a maioria da população. A produção de tais livros tinham relações com a fé, já que eram escritos pelas mãos de monges, mas tal teologia da época seria abalada graças a invenção de Gutenberg.
O método usado pelo inventor foi o de criar letras esculpidas em bastões de metal, o que chamamos hoje de “tipo”, por isso o termo tipografia. Em outras palavras, Gutenberg criou os caracteres que compunha as páginas de um livro. Com a ajuda de uma moldura e uma prensa, o inventor unia os moldes das letras e organizava de modo que formassem uma linha, usando tinta depois para a reprodução no papel. Imaginem um carimbo pequeno, onde o molde seria cada letrinha esculpida em metal. Imaginaram o trabalho que custava para produzir?

Montagem dos tipos gráficos


As técnicas de impressão foram se aperfeiçoando cada vez mais com o tempo. As empresas tipográficas foram crescendo ao redor do mundo e surgindo novas ideias para textos, livros, gravuras. Pouco depois surgiu a impressão do jornal usando a mesma técnica e, com isso, a evolução da informação e meios de comunicação. Consequentemente, a população mundial se tornou mais educada culturalmente, já que o acesso a livros, textos, entre outros, se tornou muito simples.
Atualmente, vivemos com uma evolução tecnológica constante, a qual se semelha o que foi para Gutenberg a sua revolução no início da tipografia, marcada por avanços, melhorias e surpresas.
Para acompanhar a evolução da indústria gráfica dentro do Brasil, desde seu surgimento, basta clicar nesse link e ver as datas e acontecimentos disponibilizado pelo site da ABRIGRAF (Associação Brasileira da Indústria Gráfica).
Feita toda essa introdução, partiremos agora para o mercado local de Boa Vista.
Este é um pré-projeto de pesquisa realizado para a obtenção de nota parcial na disciplina de Iniciação à Pesquisa Científica, do Curso      Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Roraima – UFRR, ministrada pelo professor e mestre Maurício Zouein, o qual é dono de uma paciência de Jó, diga-se de passagem.

Como se originou a gráfica dentro do estado de Roraima?
Em 1944 o governador do então Território do Rio Branco, Ene Garcêz dos Reis, fundou o Órgão Oficial, que utilizava um mimeógrafo (máquina que tem a função de fazer cópias de papel estêncil escrito em grande escala. Sua reprodução é feita com ajuda de álcool) para as devidas publicações exigidas pelo governo.
Em 24 de julho de 1944, começou a circular o primeiro documento chamado “Órgão Oficial”, que publicava os Atos e Portarias do Governo do Território. O atual governador então convidou Geraldo Guimarães Nogueira para dirigir o que viria a ser a Imprensa Oficial do Território Federal do Rio Branco. De acordo com João Menezes, pioneiro da imprensa local, tempos depois, já no governo de Clóvis Nova da Costa, foi adquirida e primeira impressora do setor, uma tipográfica.
Tempos depois, Boa Vista foi marcada por uma nova fase na história da comunicação com a chegada de uma Linotipo, sistema de matrizes que, após agrupadas, servem para fundir uma linha de chumbo, contendo os caracteres digitados no teclado. A máquina foi importada dos Estados Unidos pelo governo de Aquilino da Mota Duarte, em 1953.
Então chegamos em 2010. Partindo desta data, das evoluções tecnológicas e do meu envolvimento com o mercado gráfico, escolhi o tema do meu pré-projeto (leia no título), o qual tem como problemática a necessidade de mais profissionais devidamente habilitados e qualificados para exercer a profissão de impressor gráfico dentro de Boa vista.
Usando a análise da Teoria de Recepção e o método de Entrevista em Profundidade, comecei meus estudos dentro da Gráfica Visual, Brindes e Impressos, que tem como proprietário Edson Roberto da Costa.


Convivi dentro da empresa, observando o envolvimento dos colaboradores, os serviços prestados pelos mesmos, as táticas de montagem de materiais, a relação com a clientela e as dificuldades encontradas.
O impressor Benjamin Azocar trabalha com serviços gráficos há 17 anos, deu início aos seus aprendizados na cidade de San Felipe – Venezuela, e hoje trabalha como freelancer em gráficas de Boa Vista. Na empresa de Edson Costa, o impressor trabalha operando a máquina Off-set, além de treinar um novo colaborador, Alex Damasceno, e fazendo as devidas manutenções no maquinário.

Área de trabalho dos colaboradores da gráfica Visual, Brindes e Impressos


Quando se trata da concorrência local em relação aos técnicos de Offsets, Benjamin confessou não se sentir intimidado. “Há uma falta de pessoas que saibam lidar com a máquina. Muitos funcionários acabam aprendendo apenas a operar uma impressão, mas no momento que o equipamento apresenta algum erro ou problema, não sabem como se posicionar. Aqui no estado não há empresas que façam esse tipo de trabalho. As pessoas que fazem vêm de fora ou aprendem fora, assim com no meu caso”, disse.
Depois da afirmação de Benjamin de que não existem empresas dentro do estado que façam manutenção em máquinas como a Offset, fui buscar declarações de outras empresas gráficas. Conversei com Carolina Cruz, uma das proprietárias do Jornal Folha de Boa Vista que, por sua vez, tem uma gráfica em suas dependências que trabalha preferencialmente para o próprio veículo de comunicação, a Editora Boa Vista. Em entrevista, a proprietária disse que para fazer a manutenção específica dos equipamentos, já foram trazidos de fora profissionais devidamente treinados, capacitados e especializados. Carolina confessou que o jornal já ficou sem circular por motivo da máquina estar com defeito e não ter ninguém dentro de Boa vista que soubesse consertar imediatamente. São acionados os técnicos de outros estados. Atualmente, os técnicos já treinados trabalham dentro da gráfica, tanto na operação quanto na manutenção.
Benjamin, em continuidade à entrevista, revelou que se disponibilizassem algum curso dentro do estado o faria sem dificuldades. “Uma chance dessas em Roraima é única, não é todo dia que se tem. Aposto que muitos, se não quase todos, os trabalhadores de gráficas o fariam também. E se me convidassem, quem sabe, pra dar aulas baseado nos meus conhecimentos, também aceitaria a proposta. Acho que Roraima precisa desenvolver mais o mercado gráfico, mas para isso precisa-se começar desde o princípio, mesmo que hajam dificuldades”, finalizou.
O dono da empresa Visual, Brindes e Impressos, abre espaço em sua gráfica para o treinamento de novos profissionais, visto que é de total interesse a melhoria na qualidade dos seus serviços e maior disponibilidade de colaboradores na área. Uma vez que o mercado boa-vistense tenha maior número de colaboradores, fica menor a concorrência e melhora os custos de empregados. Edson relata, em entrevista, as dificuldades acerca da falta de profissionais e de profissionalismo: “Não existe um sindicato que organize algum tipo de parceria com contribuições de interesse de categorias profissionais para oferecer cursos que profissionalizem gráficos dentro do estado. Isso seria de grande ajuda, como por exemplo, geração de novos empregos, capacitação de funcionários gráficos, além de que o mercado cresceria consideravelmente”, disse.
Os gráficos locais, em sua maioria, são treinados dentro das próprias gráficas. Vão aprimorando suas técnicas a cada dia, mas isso ainda não é suficiente. Necessita-se de uma chance de melhoria, assim como pontuou Edson.
Boa Vista vem desenvolvendo com o passar do tempo, mas em uma velocidade mínima, principalmente quando se trata de serviços gráficos. Há concorrência, há espaço de trabalho, há material e clientela, mas ainda não há um apoio aos colaboradores que queiram se tornar capacitados para exercer suas profissões.
Existem Serviços que poderiam se disponibilizar, em parceria com empresas e com o governo do estado, a oferecer tais cursos à população boa-vistense. Desenvolver Roraima é uma das prioridades do governo, mas isso deve abranger todas as áreas, incluindo o mercado gráfico.

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