sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Etnias indígenas na tela do computador em Roraima

           por Berto Batalha


A matéria a seguir sobre o relato do curso de Introdução à Educação Digital teve início dia 9 de fevereiro do corrente ano, com término em 20/02/2009, em parceria com CEFORR (Centro Estadual de Formação dos Profissionais de Educação de Roraima) tendo como público alvo Professores das turmas A, B, G e J do magistério Indígena do projeto Tamî'kan. As aulas foram ministradas por professores multiplicadores e Técnicos de Informática do Núcleo de tecnologia Educacional de Roraima - NTE/RR, no laboratório de Informática da Escola Estadual Padre José de Anchieta na comunidade do Surumú, município de Pacaraima. Mostrando os problemas do dia a dia dos professores ministrantes com material didático (impresso) a metodologia utilizada, transportes, acesso, os conflitos com os não índios (arrozeiros), as diferenças culturais e a forma de como foram solucionados os problemas para atingir o objetivo.
Desde a época dos descobrimentos os homens fundavam países, pregavam religiões e abriam novos caminhos a humanidade. Estes “sonhos” antigos e modernos desvendam os profundos anseios da humanidade em superar as barreiras raciais, culturais e econômicas que ainda divide o homem. Hoje como no passado, um dos dramas mais sofridos por milhões de pessoas é o de pertencer a uma “minoria” e ser excluídos dos demais, por viver em favelas, às “margens” das cidades, ser chamado de “pobre”, “peão”, “caboclo”, “índio”, etc.
Segundo o Professor Bertoldo, as etnias indígenas de Roraima são os mais sofridos contra a sua vontade, quanto a sua condição interior, de ter perdido a sua “identidade”, de não achar um equilíbrio entre o “ego” do passado que não morreu por completo e o “ego” do futuro que ainda não nasceu. Para sobreviver, terão que fazer contínuos ajustes entre sua cultura na qual tem Raízes, e a cultura não indígena na qual escolheu viver ou onde, por causas alheias a sua vontade, está condicionado a viver.
Chegando a missão fundada pelos padres beneditinos
Foto cedida pelo professor Bertoldo

Em parceria com o projeto Tami'kan com objetivo de capacitar os professores indígenas a utilizar o computador como mais uma ferramenta pedagógica, na Vila do Surumu ou Comunidade do Barro.
“Ao chegarmos à comunidade fomos recebidos pela coordenadora do projeto Professora Edite, que logo nos falou sobre o conflito dos índios com os não índios (arrozeiros da região) e a possibilidades de ocorrer um bloqueio na estrada de acesso, o que nos deixou apreensivos. Diante deste contexto, assustados por não termos como voltar, sem local para estabelecermos, sem água potável, fomos então convidados a tomar banho no rio Surumu, o qual nos arriscamos somente a conhecer. Nossa hospedagem era em uma casa pré-montada que em tempos passados serviu de hospital para missões itinerantes, onde tentamos dormir, mas conseguimos passar a noite na companhia dos mosquitos, embalados pelas redes montadas embaixo dos pés de côco. No outro dia, nosso destino era o local onde íamos nos estabelecer (uma casa de apoio situada em uma escola municipal de ensino fundamental de 1ª a 4ª série, tomamos banho e logo depois nosso destino era conhecer o laboratório de informática situado na Escola Estadual Padre José de Anchieta, ao lado de nossa hospedagem, que foi fundada no ano de 1943, pelos padres beneditinos, localizada na Vila Pereira-Surumu, Município de Pacaraima.”
A respeito do primeiro contato e a comunicação entre professores e alunos, Bertoldo diz que foi onde encontraram o primeiro obstáculo. “Planejamos as nossas aulas para o dia seguinte, foi primeiro contato no laboratório de informática. Na hora da apresentação começamos a sentir a nossa primeira dificuldade, a comunicação. Trocando em miúdos, eram sete etnias indígenas diferentes, todas juntas na mesma sala de informática e poucos falavam o português para que pudessem nos entender, então tivemos que nos adaptar, utilizando os mesmos como interlocutores, o que foi um sucesso (no final do curso aprendemos a pronunciar e falar algumas palavras).”
Com um breve histórico sobre o computador e a noção básica de hardware, solftware e ligar/desligar o computador, suas interfaces gráficas, etc, foram iniciados os trabalhos. “Utilizamos jogos educacionais (Linux Educacional 2.0) na tentativa de adaptação motora com o uso do mouse e a suas aplicabilidades no cotidiano escolar como professor.”
Bertoldo conta que durante as aulas dentro do planejado, verificou-se que alguns conteúdos (atividades) não despertaram o interesse dos alunos, logo, necessitava-se de uma situação que os motivasse, pois surgiram dúvidas no decorrer das aulas, portanto, a necessidade de adquirir novos conhecimentos que respondessem e solucionasse este problema. A partir deste contexto, surgiu uma nova idéia dentre os professores. “Despertamos para a pedagogia das diferenças e durante a realização das atividades seguintes, deixamos que falassem sobre as suas idéias, contando suas experiências, construindo seus próprios modelos de explicação do seu cotidiano e suas histórias, estabelecendo relações com os aplicativos de edição de texto, planilha eletrônica, Internet e outros, fazendo comparações. Aos poucos foram adquirindo uma atitude investigatória, produtora de textos e investigação”.
Na tentativa de solucionar os problemas que surgiam durante as atividades, os professores criaram condições para que a aprendizagem ocorresse como um processo dinâmico, envolvendo a reflexão explicada por Dewey; a construção do conhecimento explicada por Piaget; um ambiente em que o aluno é sujeito da aprendizagem, conforme Paulo Freire, e em que o professor atua como mediador, segundo o conceito da ZPD defendida por Vigotsky.
No laboratório, o primeiro contato dos alunos
A avaliação aconteceu de forma continua através de atividades práticas, ou seja, feita no computador e elaborada de acordo com o conteúdo ministrado, dentro desta busca de informações e de construir uma aprendizagem significativa e na interação alunos/professores, aluno/aluno em um processo de amenizar e solucionar as dificuldades do colega durante as atividades. Foi aí então, segundo Bertoldo que eles tinham alcançado o objetivo esperado. “Tivemos dificuldades, pois o acesso a Internet estava restrito a apenas seis computadores, os alunos queriam fazer sua própria navegação, no intuito de amenizar esse processo, tomamos medida de dividi-los em grupo (imagine cada turma com cerca de 40 alunos e uma sala de informática com apenas dez computadores). Após o término das aulas (duas semanas, 40 h/a) fomos contemplados com uma dança indígena chamada de dança do Parixara - que gravamos em vídeo - e uma confraternização de agradecimento dos alunos para os professores”, completou.
Sobre esta experiência, Bertoldo conclui:
“Uma grande lição que tivemos desta experiência é que o projeto de inclusão digital Tami'kan assim como a Ciência não deve ser apresentado como uma verdade acabada, absoluta, dogmatizada, e sim como uma área de pesquisa que sofre influências econômicas, sociais e históricas, promovendo possibilidades de mudanças, reflexões e o prisma sempre focado na área pedagógica e metodológica das diferenças culturais”.

Um comentário:

  1. fotos do papai heheheh eu sabia garoto BERTO que vc ia conseguir vencer os "MAUs" da vida FLW! abração ZOUZOUEINNNN! é isso ae garoto! Vanessa BJão! huhuhuu tá show!

    ResponderExcluir